terça-feira, 18 de maio de 2010

A fraqueza do Todo-poderoso

Talvez, soe estranho o título desta reflexão, mas algo tem inquietado meu coração há uns 3 anos, por isso resolvi dar uma pitada dessa indagação aqui.

Desde criança tenho aprendido que Deus (com raras exceções), é uma espécie de super-herói, que todas as vezes que eu “preciso” dos seus super-poderes ele esta a minha disposição para fazer certos “milagres que necessito”. Bom, não quero entrar muito nestes detalhes (veja meu artigo, “o deus da prateleira”), mas com isso a imagem que dele fui criando, aos poucos, era de um Mágico Super-Poderoso. Pensava: - se for fiel a Deus, quando eu precisar, ele estará pronto a me ouvir. O curioso desta história é que um tempo ainda depois de convertido, continuava a pensar assim, neste deus desumanizado. Ai começaram algumas perguntas dentro de mim: E Jesus de Nazaré? No seminário ouvi dizer que ele é totalmente Deus e totalmente homem? Que ele humilhou-se para encarnar? Que abriu mão de sua glória? Que Deus é este sem glória? E se não basta-se, fez-se maldição na cruz do Calvário? Onde estava seu poder nesta hora?

Meditando nas palavras do Evangelho de Mateus 27:40-44 alguns dias atrás, ouvi Deus falar comigo. Nesse texto de Mateus, ele fala sobre a crucificação de Jesus. Jesus foi açoitado, cuspido, humilhado, os soldados lhe dão de beber vinho com fel, e o crucificam no madeiro. Os que iam passando zombam D´ele dizendo: “Não é você que destrói o santuário e o reedificas em três dias? Salva-te a ti mesmo, se és o filho de Deus, e desce da cruz! Os principais sacerdotes, com os escribas e anciãos, escarnecendo, diziam: Salvou os outros, a si mesmo não se pode salvar. É Rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nele (vs 40-42). O que me parece estar em ênfase no texto, é a atitude das pessoas em relação a Jesus, e não a ausência de reação do Crucificado. O que quero dizer com isso? As vezes é impossível reconhecer Deus na cruz! Nosso cristianismo, não nos permite na maioria das vezes vê-lo pendurado. Talvez a igreja hoje continue dizendo para Cristo: desce daí e creremos em Ti; Se você me tirar desta é porque é Deus; Se acontecer isto ai crerei em Ti; se você se mostrar mais forte, confiarei em você; se você é Deus, explode este sofrimento, esta dor, esta angustia e ai sim creremos em Ti, pois Deus que é Deus não permite-nos sofrer, quem diria a si mesmo. Pense comigo. Será que você tem pedido pra que Jesus desça da cruz?

A cruz de Cristo representa para nós a oportunidade de sermos reconciliados com Deus, pelo seu imensurável amor. É na ignomínia desta cruz, nesta fraqueza de Deus, que nós somos poupados de receber sua ira. Neste ato humilhante de Cristo pendurado que encontramos N´ele a face do Pai. Jesus na Cruz do calvário muda a lógica da humanidade, ele ensina a não vivemos pela lógica do poder, pelo contrário, a boa noticia do evangelho é a lógica da fraqueza. Ele esvaziou-se por nós. E a lógica continua para os doentes, pecadores, para os pobres. Deus em Cristo Jesus, através da cruz do calvário, estava salvando o mundo, pela lógica da fraqueza, limitando-se a condição de humano, mas divino.

Que esta cruz volte a fazer sentido para nós Senhor. E que a Tua noiva creia neste Deus que se faz fraco para se aproximar de nós. Como disse Rubem Alves: “Um Deus fraco pode chorar comigo... e por isso nos amamos...”. Só mais um detalhe. Se isto não bastasse, ao terceiro dia, ele ressuscitou. Se crermos Nele, assim, simples e sinceramente, ressuscitaremos com Ele.

Luiz Eduardo Caraline

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O deus da prateleira

Conversando com alguns irmãos em Cristo, tenho percebido como nós, Igreja, temos nos afastado da graça de Deus e do seu verdadeiro amor, para nos aproximarmos da lógica capitalista e, do mercado, fazendo disso, a nossa teologia.

Quero te dar uma noticia má e uma boa. No salmo 115, o salmista fala a respeito de uma adoração a ídolos feitos pelos próprios homens,e diz que aqueles que confiam (adoram) neles (v. 4-8), tornam-se parecidos com eles. Mas o que isso tem haver com os nossos dias? Me parece que o salmista estava vivendo no meio da igreja evangélica hoje. Como disse pastor Ricardo Barbosa, “estamos vivendo o momento em que Deus fala em resposta a nossa oração ao invés de nós orarmos em resposta a fala de Deus”. Nós perdemos, na caminhada evangélica, a noção de que a iniciativa, sempre é de Deus (Mt. 19:25-26). Com isso, ao passar dos anos, e com uma forte influencia norte-americana em nossa teologia, nós fomos deixando de lado a teologia da graça, e criamos a teologia do mérito (prosperidade), e “deus” passou então a estar sujeito as nossas “orações”: eu determino isso, eu quero aquilo, faz assim agora, nós exigimos os nossos direitos, etc. Parece até que estamos entrando num supermercado e podemos pegar aquilo que nos convêm: - Bom, vou pegar este carro aqui; opa, vou pegar este milagre ali; beleza, essa benção aqui. Assim acabamos por fazer deste “deus de prateleira” o nosso deus. Esse deus satisfaz nosso ego, por isso, criamos um deus que apenas supre nossas necessidades, e o resto é conosco mesmo, a gente mesmo resolve, e é bom se relacionar com este deus, a gente faz qualquer coisa pra ele e ta tudo certo. Só que com o passar dos dias, lido com pessoas frustradas, feridas, com um buraco na alma, vazias, porque, no final, elas também estão virando produtos de prateleiras, porque estão tornando-se semelhantes a esse deus. Esse deus criado por nós, só poderia ser algo parecido conosco. A má noticia que quero te dar, é que, nós não suportaríamos viver conosco mesmo ( longe da graça).

Apesar disso, ainda existe outra saída. No verso 1, o salmista começa dizendo, “não a nós Senhor, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua misericórdia e da tua fidelidade” A boa noticia que eu quero te dar, é que, o Deus vivo e verdadeiro, é Deus que age primeiro, é Deus que nos amou antes mesmo de nós sabermos o que é amor, é Deus que morreu por nós, é Deus que nos salvou de graça, e que não espera nada de nós para nos alcançar, simplesmente precisamos reconhecer: - eu não consigo Senhor, mas você pode. A teologia da graça nos dá esperança. Nela o pecador é perdoado, arrepende-se, e vive uma vida de santificação, para a glória de Deus como forma de gratidão a Deus pelo que Ele fez e, se ele pecar, tem um Advogado Justo diante do Pai. Adorar a Deus é então para nós viver com Ele e ser perdoado por Ele. Sem merecimento, mas também sem culpa.

Alguém disse: Antes que Deus dissesse: haja luz, ele disse haja cruz! Deus não está em nossas prateleiras, ele diz e nós o obedecemos. Não merecemos nada, é graça de Deus, em Cristo Jesus, que nós dá a oportunidade de dizermos, não a nós Senhor, mas a Tua vontade.


Luiz Eduardo Caraline