quarta-feira, 23 de junho de 2010

Por uma espiritualidade integral

Recentemente estive em uma reunião de pequeno grupo, e a discussão era acerca da parábola do semeador (Mc. 4:1-20). Para alguns, o que mais chamava atenção era o fato de os solos poderem ser comparados aos estágios de nossa caminhada cristã; a outros, o que mais chamava atenção era a aplicação de que o bom solo, é em nós cultivado por uma autodisciplina na meditação das escrituras; e ainda tinham aqueles que tinham um novo conceito, a partir de uma descoberta hermenêutica, em compreender que o texto era para pessoas convertidas, também. E foi quando algo me chamou a atenção de maneira diferente. Meu amigo, pastor Fabiano, comentava dizendo, que muitas vezes não conseguimos mais passar pelas etapas naturais da vida cristã e que era necessário para aquela semente, nascer, crescer para cima e para baixo. Foi ai que eu tive um insight e, essa frase me desligou de todo o resto.

No verso 20, Jesus diz que “ aqueles que foram semeados em boa terra são os que ouvem a palavra e a recebem, frutificando a trinta, sessenta e a cem por um”, e comecei a pensar nesta semente nascendo numa boa terra, a pensar que esta terra é o nosso coração. A semente lançada em terra boa cresce para cima e para baixo. Pense comigo: geralmente nós acreditamos que sermos espirituais significa vivermos trancafiados, isolados do “mundo”, de forma separatista, fazendo uma dicotomia entre o profano e o sagrado, nos vestirmos de uma maneira particular, falarmos de um jeito nosso, e termos os nossos rituais de culto, na expectativa de estarmos desenvolvendo uma “certa espiritualidade”. O texto destaca a terra, quero dar ênfase, partindo do pressuposto da boa semente que já encontrou a boa terra (coração). Tomando isso como ponto de partida, quero refletir sobre essa percepção, e entender que a semente precisa germinar, brotar (crescer para cima) e que precisar aprofundar suas raízes (crescer para baixo e para os lados) para só depois disto desenvolver-se realmente e amadurecendo, frutificar.

A primeira etapa, de germinação, pode representar o novo nascimento. A segunda etapa, é quando a semente brota, crescendo sobre a superfície da terra. Entendo que aqui, nós começamos a nutrir um relacionamento pessoal com a Trindade. Nesta etapa, é quando nós descobrimos o prazer em meditar nas escrituras, na oração e no jejum (auto-discplina). Passamos a desenvolver aqui, o que alguns chamam de espiritualidade vertical. É um relacionamento entre o homem e Deus. A terceira etapa é o enraizamento desta nova plantinha. Quando ela começa a fincar suas raízes, expandido seu contato com a terra, com os sais, com a água. É aqui que caiu a ficha. Após termos descoberto o relacionamento com Deus, nós só podemos nos aprofundar em direção a Ele ( crescer p/ cima), se nós aprendermos a desenvolver uma espiritualidade horizontal; ou seja, o crescimento para cima, inevitavelmente nos faz crescer para baixo. Quanto mais próximos de Deus estamos, mais nos voltamos para o próximo ( crescer para baixo). Por isso, no desenvolvimento de uma espiritualidade integral, nós precisamos crescer para cima e para baixo, pois crescer para baixo, em relação ao próximo, é o que me dá condição de crescer, amadurecer e frutificar. Concluo com isso dizendo que, amar a Deus, produz em nós um amor pelo outro. Aquele que desenvolver uma espiritualidade apenas vertical, torna-se apenas religioso; aquele que desenvolve uma espiritualidade apenas horizontal, torna-se assistencialista. Nosso grande desafio é, redescobrirmos em Deus, nossa espiritualidade, para que ela seja integral, e com isso meu amor a Deus amadureça em amor ao próximo me fazendo assim, a cada dia, mais parecido com Ele. Como diria o Apóstolo João “aquele que diz que ama a Deus e não ama seu irmão, faz-se mentiroso”. Que o Senhor desperte em nós o olhar para o outro.

Luiz Eduardo Caraline

3 comentários:

  1. Muito bom!!! Edificou muito minha vida.

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  2. Boa garoto.. Então, tens que divulgar o blog, bota em mídias sociais, etc...
    Muito boa a linguagem. Toca ficha nesse lance que é o barato da pós-modernidade!
    \0/ Salve-salve a Teologia do Processo!
    Abraços meu querido...

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  3. Cara, isso gera um conflito dentro de mim tão grande... Penso que muitas vezes posso ser mais assistencialista, do que de fato doador (daquilo que o Senhor me deu, proporcionar ao outro).
    E quando acho que sou apenas assistencialista, me pego numa religiosidade, onde os outros me veem como Cristão, mas por dentro esta vazio, apenas com uma mascara.
    Esse é um dos meus desafios, ser integral no que é "Reino de Deus".
    Esses dias pensei a respeito dos Politicos e cheguei na mesma conclusão:
    Muitos politicos, amam o sistema "fazer e viver politica", e não amam a "pessoa humana" que necessita de compaixão, ajuda.
    È um grande desafio para nós "sociedade", sermos integrais: Fazendo politica para beneficio do povo, sendo voz do povo, com amor e respeito. E tambem é um desafio para nós como "igreja", sermos integrais: Doar-se pelos outros porque Deus nos deu de graça, então fazemos com amor daquilo que recemos com amor.

    Se ficou complicado o raciocinio, vamos discutir aqui...

    Valeu...

    falo Lulu.

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